O aguardado e exigente ranking ‘A List’, do Carbon Disclosure Project (CDP), tem apenas 12 empresas no mundo com nota máxima nos três quesitos da premiação.
Uma das listas mais esperadas por quem acompanha sustentabilidade é a “A List”, elaborada pelo Carbon Disclosure Project (CDP), organização internacional que administra um sistema mundial de divulgação de informações ambientais por empresas, cidades, Estados e regiões. Considerado por muitos o “Oscar da Sustentabilidade”, para atender a seus rigorosos critérios não basta fazer promessas, é preciso mostrar uma estratégia consistente e factível de mudanças em um ou mais dos três principais programas – mudanças climáticas, segurança hídrica e florestas.
Em 2022, das 15 mil empresas que receberam alguma nota, só 330 delas alcançaram a nota máxima (A) em uma das frentes: 283 em mudanças climáticas, 25 empresas em Florestas e 103 empresas em segurança hídrica. Dessas, só 12 entraram na seleta lista “Triple A”, ou seja, receberam pontuação máxima nos três programas. Entre elas está a brasileira Klabin, produtora e exportadora de papel e celulose, única da América Latina a conseguir a nota máxima em todas as categorias.
Como chegar lá?
– Plantamos 84 árvores por minuto, mantendo mais de 42% do maciço florestal preservado, sendo que a obrigação legal das empresas localizadas na Mata Atlântica é de apenas 20%. Ou seja, nós preservamos mais do que o dobro do estipulado pela lei – diz Julio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin.
– Temos preocupação com a biodiversidade. Dentro de nossos 549 mil hectares de florestas, que representam quase três vezes a área da cidade de São Paulo, foram identificadas 851 espécies de fauna e 1.920 plantas, sendo dezenas ameaçadas de extinção – relata.
A frente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que busca melhorar processos produtivos e repensar portfólio, recebe cerca de 0,5% do faturamento anual. Nas florestas, adotou, por exemplo, a prática do manejo florestal hidrossolidário, que equilibra a produção florestal e a disponibilidade de água, diminuindo o impacto em microbacias. Em gestão hídrica, desde 2004 reduziu mais de 54% a água captada em todas as suas unidades industriais.
Além disso, 89% de sua matriz energética é composta por fontes renováveis, com a meta de atingir 92% até 2030. Substituiu, por exemplo, óleo de combustível por gaseificação de biomassa, deixando de consumir 21,5 mil toneladas por ano de óleo.
A empresa já conseguiu chegar ao balanço de carbono negativo, uma vez que sequestra mais gás carbônico da atmosfera do que emite nas operações, com certificação validada pela Science Based Targets initiative (SBTi). Suas emissões totalizaram 1,3 milhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) em 2021. Na outra ponta, capturou 12,1 milhões de toneladas de CO2e no mesmo período.
Hoje, com 23 unidades industriais, sendo 22 no Brasil e uma na Argentina, a Klabin produz 2,6 milhões de toneladas de papel por ano, sendo 415 mil toneladas de papéis reciclados. Isso a torna detentora de 11% do mercado de reciclagem de papel no país.
– Somos a maior compradora de aparas de papelão do mercado, o que fomenta ainda mais a cadeia da reciclagem e da economia circular – diz Nogueira.
A Klabin integra a iniciativa Business Ambition for 1,5ºC, campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) que visa a reduzir a temperatura do planeta.
Rumo à economia circular
Também na lista “A” do CDP na categoria de proteção climática pela sétima vez consecutiva, o grupo industrial de origem alemã Thyssenkrupp, presente em 48 países, evitou, durante o ano fiscal 2021/2022, o descarte de 89% dos resíduos produzidos globalmente, encaminhando-os de volta à cadeia produtiva.
Governança e processos rigorosos
Em 2022, o número de companhias que obtiveram nota máxima na lista aumentou 34% no mundo, quando comparado de 2021 para 2022, e no Brasil, a representatividade caiu de sete empresas para cinco. Além da Klabin, outras brasileiras estão entre as que conseguiram “A” em pelo menos uma das três categorias, a exemplo da Dexco, Suzano, Telefônica Brasil (Vivo) e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
Para chegar à classificação, a organização analisa as informações enviadas pelas empresas, levando em consideração respostas aos três questionários: mudanças climáticas, florestas e segurança hídrica.
– As empresas precisam apresentar estrutura de governança para a gestão de mudanças climáticas, processos rigorosos de gerenciamento de riscos integrados à sua estratégia de negócios e planejamento financeiro – explica Fernanda Coletti, gerente de engajamento corporativo no CDP Latin America.
No quesito neutralização de carbono, são exigidos inventários de emissões e estabelecimento de metas de redução de curto, médio e longo prazo (Net-Zero), além da validação pela iniciativa SBTi. O questionário sobre florestas aborda conservação e reflorestamento, que devem ser certificados.
Já para ser bem avaliada em relação à segurança hídrica, a empresa deve provar eficiência na retirada de recursos hídricos nos locais em que opera e no tratamento de efluentes, garantindo que essas informações são medidas e monitoradas regularmente. Em todos os quesitos, o CDP observa também as metas estabelecidas, para entender como a empresa se compromete a avançar.
Uma mudança anunciada para o questionário 2023 é que as empresas serão solicitadas a reportar dados relacionados à presença de plásticos, no questionário relativo à segurança hídrica. Coletti relata que 103 empresas alcançaram um lugar na Lista “A” de segurança da água do CDP em 2022 – queda de 12,7% em relação às 118 empresas em 2021.
Ela atribui a queda a critérios mais ambiciosos estabelecidos, e recomenda àquelas que desejam figurar no topo da lista em 2023 que busquem “práticas de aquisição inteligente de água e trabalhar com governos municipais em segurança hídrica no nível da bacia hidrográfica.”
(Fonte: O Globo – Por Lúcia Helena de Camargo, Especial Para: O Prática ESG – 18/01/2023).